Thalline Carvalho | “Meu pai abusa de mim e minha mãe é indiferente”: como lidar com essa dor

O papel de uma mãe é amplamente associado à proteção, orientação e cuidado dos filhos. Entretanto, quando a figura materna apresenta traços de narcisismo e está casada com um parceiro abusivo, suas responsabilidades podem ser distorcidas ou completamente negligenciadas. Nessas situações, as mães podem se omitir em relação ao abuso que ocorre dentro do lar, seja por causa de sua própria vulnerabilidade emocional ou por falta de instrução sobre como lidar com a situação. Esse cenário coloca os filhos em uma posição de extrema vulnerabilidade, prolongando o trauma e o sofrimento ao longo de suas vidas.

O Narcisismo Materno: Uma Barreia à Empatia

O narcisismo, como traço de personalidade, é caracterizado por uma visão inflada de si mesmo e pela dificuldade em sentir empatia genuína pelos outros. No contexto de mães narcisistas, isso pode se manifestar em uma constante busca por validação externa e um desejo de ser vista como uma “boa mãe”, mesmo que suas ações mostrem o contrário. Essas mães podem estar mais preocupadas em manter as aparências do que em atender às necessidades emocionais e físicas de seus filhos.

Quando um marido abusador está presente no ambiente familiar, o comportamento narcisista da mãe pode levar a uma omissão total em relação ao sofrimento dos filhos. A mãe narcisista pode negar ou minimizar o abuso para manter a ilusão de uma família “normal”, ou até mesmo culpar os filhos pelo comportamento abusivo do pai. A proteção e o bem-estar dos filhos deixam de ser prioridades, e a mãe pode até racionalizar o abuso como algo inevitável ou merecido.

Esse comportamento pode ser visto como uma falha moral grave, mas é importante lembrar que muitas dessas mães podem também ser vítimas de um ciclo de abuso que não conseguem identificar ou romper. O narcisismo, aliado à falta de instrução e orientação adequada, cria uma barreira para que essas mulheres reconheçam o impacto devastador que sua omissão tem na vida dos filhos.

A Cultura do Silêncio e a Normalização do Abuso

Em muitos contextos culturais e familiares, o abuso é normalizado ou mantido em segredo. Essa “cultura do silêncio” perpetua o ciclo de violência doméstica, especialmente quando as mães que deveriam ser protetoras se tornam cúmplices passivas. Para muitas mães narcisistas, o medo do julgamento social ou da destruição de sua imagem idealizada pode ser maior do que a preocupação com o sofrimento dos filhos.

Além disso, a própria vivência dessas mães pode estar enraizada em experiências de abuso e negligência emocional. Elas podem ter crescido em lares onde o abuso era comum, e, sem acesso a uma educação emocional adequada, podem não ter aprendido a identificar padrões de abuso ou a estabelecer limites saudáveis. Nesses casos, a falta de instrução, tanto sobre o que constitui um ambiente familiar saudável quanto sobre como intervir, faz com que essas mães perpetuem o ciclo de violência.

As mães narcisistas podem também apresentar um comportamento de “desidentificação” com os filhos, onde elas não se enxergam como parte do problema, e sim como vítimas. Ao se colocarem no centro da narrativa familiar, acabam por negligenciar ou ignorar as experiências dos filhos. O pai abusador pode ser visto como alguém que traz estabilidade financeira ou social à família, o que leva a mãe a justificar sua passividade ou até mesmo a defender o agressor.

A Omissão Materna e Suas Consequências a Longo Prazo

A omissão de uma mãe narcisista diante do abuso paterno tem consequências graves e de longo prazo para os filhos. Crianças que crescem em ambientes abusivos, onde a figura materna não intervém, desenvolvem feridas emocionais profundas que podem acompanhar-lhes por toda a vida. A falta de proteção por parte da mãe pode resultar em sentimentos de abandono, desvalorização e baixa autoestima.

Filhos de mães narcisistas e omissas frequentemente relatam sentimentos de confusão e desesperança, uma vez que a pessoa que deveria ser sua maior fonte de segurança e conforto se alinha com o agressor ou finge que o abuso não está acontecendo. Isso cria um ambiente de insegurança emocional, onde os filhos são deixados à mercê de um abusador, sem uma figura de proteção.

Esses traumas podem se manifestar de diversas maneiras na vida adulta, incluindo transtornos de ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamento, problemas de confiança e padrões de codependência emocional. Muitos desses filhos também se tornam vulneráveis a repetir o ciclo de abuso em seus próprios relacionamentos, perpetuando os mesmos padrões que sofreram na infância.

Além disso, a falta de intervenção materna pode levar os filhos a internalizar a ideia de que o abuso é “normal” ou algo com o qual devem conviver. Eles podem ter dificuldades em identificar o abuso em seus próprios relacionamentos futuros, acreditando que o comportamento abusivo é uma parte inevitável da vida familiar.

A Falta de Instrução: Uma Barreira para Romper o Ciclo de Abuso

Um dos principais fatores que contribui para a omissão dessas mães é a falta de instrução e educação emocional. Muitas dessas mulheres não têm acesso a informações sobre o que constitui abuso, nem recebem o apoio necessário para sair de um relacionamento abusivo ou proteger seus filhos. A falta de instrução pode vir de diversas fontes, como um histórico familiar disfuncional, limitações educacionais, dependência financeira do parceiro abusador e a ausência de uma rede de apoio externa.

Sem orientação adequada, essas mães podem acreditar que não têm escolha a não ser suportar a situação. Elas podem temer as consequências de denunciar o abuso, como a perda da estabilidade financeira, a retaliação do agressor ou o estigma social. Além disso, a sociedade frequentemente culpa as mulheres por não deixarem seus agressores, ignorando as complexidades envolvidas em situações de violência doméstica.

Outro aspecto crucial é a dependência emocional que pode se desenvolver entre a mãe e o agressor. Muitas vezes, as mães narcisistas buscam validação do marido abusador, mesmo que isso signifique sacrificar o bem-estar dos filhos. Esse tipo de dinâmica é ainda mais agravado pela falta de instrução, que impede essas mães de reconhecerem a toxicidade da relação e de se protegerem, assim como a seus filhos.

Soluções e Caminhos para a Conscientização

Romper o ciclo de abuso e omissão requer um esforço coletivo de conscientização e educação. Programas de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica devem incluir uma abordagem voltada para mães em situação de vulnerabilidade, oferecendo não apenas suporte psicológico e legal, mas também educação emocional e ferramentas para identificar e lidar com o abuso.

É essencial que as mães narcisistas, assim como outras vítimas de abuso, sejam encorajadas a procurar ajuda e instrução. Muitas dessas mulheres precisam aprender sobre os sinais de abuso e entender as suas responsabilidades como mães, bem como as consequências de sua omissão na vida dos filhos. Programas de empoderamento emocional podem ajudar essas mulheres a se libertarem do ciclo de dependência emocional do abusador, permitindo que elas tomem decisões que protejam a si mesmas e suas famílias.

A criação de uma rede de apoio é outro passo crucial. Muitas dessas mães permanecem em relacionamentos abusivos por medo de ficarem sozinhas ou sem recursos financeiros. Oferecer acesso a moradia segura, suporte financeiro e aconselhamento especializado pode ajudar essas mulheres a romper com o ciclo de abuso e oferecer um ambiente mais seguro para seus filhos.

A omissão de mães narcisistas diante de maridos abusadores é um fenômeno doloroso que tem raízes profundas na falta de instrução e no narcisismo. No entanto, com educação, conscientização e apoio adequado, é possível quebrar esse ciclo de dor e garantir um futuro melhor para as próximas gerações. Proteger os filhos do abuso é uma responsabilidade fundamental, e oferecer às mães as ferramentas necessárias para cumprir esse papel é um passo vital na construção de famílias mais saudáveis e seguras.

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